sexta-feira, 4 de agosto de 2006

10 Questões Sobre o Oriente Médio

Número de mortos é o detalhe do detalhe. A imprensa também é uma arma na guerra. Embora cruéis, não acho que essas questões pontuais, discutidas com a riqueza de detalhes e no calor das objeções de cada um, traga alguma espécie de ajuda para a compreensão do problema.

Na verdade, todos os blogs estão fazendo mais ou menos a mesma coisa: o editor lança um post qualquer sobre o conflito e logo aparecem os radicais, extremistas, fundamentalistas (de ambos os lados) ou até psicopatas para xingarem-se.

Tomei a liberdade de listar 10 perguntas e gostaria de ouvir a opinião dos comentaristas sobre algumas dúvidas que não consegui resolver e que não estão respondidas em livros. Tratam da estratégia global que está sendo adotada no Oriente Médio.

Contexto

De forma resumida, considero como marco zero desse conflito específico, a independência do Líbano, em 1943 e a desocupação francesa em 1946. Dois anos antes da criação de Israel.

Em 1948, com a criação de Israel, 10 mil palestinos que viviam na região recém transformada em Israel, refugiaram-se no sul do Líbano. Em 1975, esse contingente era de 300 mil palestinos.

Em 1976, a Síria enviou 40 mil soldados para o sul do Líbano para evitar que a milícia maronita fosse derrotada pelas forças palestinas. Com o apoio sírio, os maronitas expulsaram os palestinos de Beirute, forçando-os a se concentrar no sul do país.

10 Questões

1. A informação que tenho é que durante os anos seguintes, a Síria “mudou sua posição e se aliou aos palestinos”, enquanto Israel aliou-se aos maronitas. Pergunto: se isso procede, que ganho os sírios tiveram em apoiar os palestinos, se apoiar os maronitas poderia muito bem atender seus objetivos “maiores”? Afinal, o governo sírio é xiita ou maronita? A opção síria pelo lado dos palestinos acabou transformando-os em uma espécie de colchão amortecedor do conflito? O Líbano “preencheu” o sul do seu país com palestinos para que eles levassem bomba dos israelenses e vice-versa?

2. Um ano antes desse conflito, um governo soberano e anti-síria começou a se manifestar entre a população libanesa. Em seguida, o primeiro ministro anti-síria foi assassinado. Meses depois outro deputado anti-síria, foi pelos ares com um carro bomba. Graças a essa interferência “grosseira”, as tropas sírias desocuparam o Líbano em 2005, deixando o sul do país a mercê do Hezbollah, que financiado pelo Irã, já havia se mesclado à “malha social” dos palestinos, criando escolas, hospitais e prestando ajuda humanitária à população. Tem bancada no parlamento e ministros no governo. Pergunto: Por que o governo do Líbano permitiu/desprezou/ignorou/submeteu-se ao Hezbollah? Qual o interesse do Líbano em manter o Hezbollah por lá? O Líbano está vendido ao Irã?

3. Somado a isso temos a resolução da ONU 1559 que “obriga” o Líbano a assumir o controle territorial - com seu precário exército - e absorver o braço armado do Hezbollah. Pergunto: Como obrigar uma milícia xiita a se integrar a um exército que responde a um parlamento maronita/sunita/xiita? Isso sem um exército?

4 Essa “resolução” da ONU simplesmente deixou a fronteira do Líbano com Israel, entregue ao Hezbollah!

  • As “nações unidas” não perceberam que isso iria acontecer? Se perceberam, porque deixaram?
  • Por que a ONU não enviou suas tropas para “garantir” o controle territorial do Líbano e o desarmamento do Hezbollah?
  • Supondo uma conspiração, qual o interesse da ONU em ver Israel responder ao ataque do Hezbollah?

5. Tem também a leitura paranóica de que a saída dos sírios e a resolução da ONU, foram armados pelos EUA, para criar uma linha de confronto direto com o principal fornecedor do Hezbollah: o Irã. Daí não é uma guerra entre Israel e um “grupelho terrorista” (como chama o PD), mas sim um corredor onde EUA e Irã, iniciam uma batalha que pode ser longa e muito mais perigosa para a economia mundial. O início da invasão do Irã, por exemplo.

Sem a compreensão dessas respostas, fica parecendo que Israel não mordeu a isca do Hezbollah, mas sim dos EUA.

6. Se fosse uma charge teríamos um gigante (EUA), segurando uma fera (Israel) contra um gigante (Irã/Síria) segurando umas vinte hienas que adoram carnificina, cada uma representando uma facção fundamentalista islâmica. Nesse contexto hipotético, Israel e Líbano são meros atores de um conflito muito mais complexo.

7. Por que países da Europa, Rússia e China não se manifestam formalmente, mas apenas através de resoluções da ONU? A Europa apóia a “Incursão imperialista”?

8. Considerando que a contrapartida seja o desarmamento do Hezbollah, por que diabos, Israel não desocupa as Fazendas de Shebaa?

9. Nem entrega os mapas das minas plantados no sul do Líbano?

10. Nem desocupa as Colinas de Golan?

Como todas as outras milícias libanesas (cristãs, drusas, palestinas, sunitas e xiitas) fizeram ao fim da guerra civil, o Hezbollah também entregaria as armas. Não entregou por conta dessas áreas! Hezbollah desarmado vira serviço humanitário.

Por fim, qual caminho escolher: a “boa-fé” da ingênua ONU, a “boa-fé” da paranóia imperialista ou a ONU também quer a ocidentalização do oriente?

2 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns, Homem no Espaço! Seu blog é visualmente bonito e você postou perguntas bem pertinentes!

Anônimo disse...

Amigo Marcelo,

Você é meu ídolo! Parabéns pelos comentários lúcidos e profundos.

Um grande abraço,

Sérgio A. Silva